sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Comunicação e Indústria Musical - resenha

Resenha apresentada para a disciplina de Seminário Avançado em Comunicação
Links dos artigos analisados:



Manguebit e novas estratégias de difusão diante da reestruturação da indústria
fonográfica
http://www.uff.br/ciberlegenda/gt2_marcelok.pdf

Indústria da Música – uma crise anunciada
http://www2.eptic.com.br/sgw/data/bib/artigos/d48719d6ab63ab38e89847f4ae8c2109.pdf





Os artigos escolhidos para análise foram Manguebit e novas estratégias de difusão diante da reestruturação da indústria fonográfica e Indústria da música: uma crise anunciada. O primeiro, que fala sobre estratégias de comunicação na música e analisa especificamente o caso do movimento denominado Manguebit foi escrito pelo Doutor em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Marcelo Kischinhevsky. Já o segundo, que relaciona a crise da indústria musical com a consolidação da internet como meio de comunicação foi redigido pelos Doutores em Comunicação e pesquisadores do Núcleo de Estudos e Projetos em Comunicação da Escola de Comunicação da UFRJ Micael Herschmann e Marcelo Kischinhevsky.
O artigo Manguebit e novas estratégias de difusão diante da reestruturação da indústria fonográfica, conforme justifica o autor, busca focalizar as mudanças nas estratégias de difusão artística ao longo da última década, tomando como exemplo os artistas do manguebit – movimento musical surgido em Recife, que utiliza a musicalidade da cultura local, como o baião e o maracatu, e mescla esses gêneros com o rock´n´roll e a música eletrônica - que tinha como expoentes as bandas Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.
O texto, em quase toda a sua extensão, é de fácil leitura e entendimento, e as questões levantadas pelo autor (que serão mostradas no decorrer da presente resenha) são pertinentes, pois com o advento das novas tecnologias os artistas devem recorrer a formas cada vez mais criativas de divulgação de seus trabalhos.
O autor inicia falando sobre estratégias comunicacionais comumente utilizadas por artistas, como a convocação de entrevistas coletivas, superproduções em torno de artistas e até mesmo o pagamento de propina a radialistas, o chamado “jabá”, e exemplifica comentando sobre a concorrida entrevista coletiva (no Rio de Janeiro) da banda Chico Science & Nação Zumbi, formada no início dos anos 90 e precursora do movimento manguebit no Recife.
Após essa breve exemplificação de estratégias mais usadas na divulgação de artistas, o autor fala da banda Mombojó, formada em 2003 e que trilhou um caminho diferente no que diz respeito à divulgação. A banda legitimou-se através do “boca-a-boca”, ou seja, não tinha uma estratégia de divulgação oficial partida de sua produção, os espectadores de seus shows que acabaram por legitimar e consolidar a banda no cenário artístico brasileiro. Outra novidade apresentada por esse grupo foi o intenso aproveitamento da internet, pois a banda faz questão até os dias atuais de disponibilizar cópias gratuitas de seu trabalho na rede. O fato pode ser considerado uma grande inovação, pois no ano de 2003 não era comum, como na atualidade, um artista fazer uso extremo da internet como meio de divulgação.
A proposta do autor de analisar formas alternativas encontradas pelos novos artistas para obter visibilidade é bastante pertinente, visto que notamos a tendência de grandes gravadoras em priorizar e investir na divulgação de artistas já consolidados no mercado, restando aos “pequenos artistas” a tarefa de se autodivulgar para conseguir sua legitimação, e quem sabe, um contrato com as chamadas majors. O autor inclusive cita essa tendência de prioridade na divulgação de grandes artistas como um dos fatores da crise na indústria musical, devido à disponibilização de grandes quantias em dinheiro para que esse trabalho de divulgação seja realizado com êxito.
O autor, ao citar que a banda Mombojó utilizou-se não só das novas tecnologias, mas também de tentativas tradicionais de legitimação, denomina isso como a “complementaridade entre mídias tradicionais e eletrônicas”, o que simplifica bastante o entendimento do texto para pessoas que não estudiosas da área da Comunicação e nem da Cultura.
Kischinhevsky mostra uma idéia inovadora ao mostrar, com o caso do Mombojó, que a Comunicação torna possível a diversidade na produção musical, pois os limites territoriais de produções regionais são vencidos pela interatividade e pela grande e livre circulação de trabalhos.
Por outro lado, Kischinhevsky torna o artigo algumas vezes redundante, pois o texto cita constantemente a importância das novas tecnologias na divulgação da produção musical e como os downloads propiciam prejuízos na visão das gravadoras e acessibilidade para os artistas.
O segundo artigo, chamado Indústria da música: uma crise anunciada é escrito pelo mesmo autor do artigo anterior, em parceria com o pesquisador Micael Herschmann e os autores iniciam o texto justificando o mesmo com o fato de não existir no Brasil muitos trabalhos que falem a respeito da indústria musical.
O propósito do texto é analisar a situação da Indústria Musical pela perspectiva da comunicação e da economia da cultura, porém essa proposta vai muito mais para o lado da economia e não da Comunicação, pois é possível notar no artigo uma linguagem muito mais técnica e um conteúdo muito baseado em dados estatísticos da área de economia da cultura, o que torna a leitura densa e, às vezes, confusa.
Também é possível notar que o texto mostra uma postura pessimista com relação ao advento da tecnologia como meio de comunicação e divulgação de artistas, com a idéia central de que a industria fonográfica irá se afundar por causa da tecnologia. Essa é uma visão extremista da situação, mas também é interessante notar que um dos autores do artigo se trata do mesmo autor do artigo anterior que tem uma visão positiva da tecnologia aliada à divulgação cultural.
Uma importante afirmação do artigo é que essas mudanças que estão ocorrendo na indústria fonográfica impactam diretamente sobre a produção cultural e a indústria, pois ao mesmo tempo em que há artistas que se promovem e conseguem legitimidade graças à disponibilização de seus trabalhos na Internet, a indústria busca fórmulas para conseguir lucrar na rede, tentando entrar em novos nichos de mercado, como a venda de faixas avulsas de CDs e de ringtones para celular. Nessas afirmações, é importante ressaltar que um trabalho de Relações Públicas seria totalmente justificável e útil, pois um profissional da área poderia gerenciar o uso desses novos nichos mercadológicos.
Os autores relatam que a indústria fonográfica está atuando junto às autoridades – ou seja, realizando lobby – para incentivar, entre outras sugestões, a criação de campanhas de conscientização de consumidores, visando a diminuição de downloads ilegais. Podemos notar - como na questão anteriormente levantada sobre novos nichos de mercado - que a atividade de Relações Públicas também poderia ser utilizada nesta questão, tanto na elaboração de um plano de lobby quanto na criação de campanhas massivas (e não restritas, como ocorre atualmente) de conscientização em relação aos downloads ilegais e as conseqüências que isso traz para os artistas e para a indústria.
Comparando os dois artigos, podemos notar que os dois textos usam o cantor Lobão como exemplo para defender os meios independentes de divulgação musical. O cantor citado inovou em uma estratégia de divulgação lucrativa tanto na parte financeira dos artistas quanto na acessibilidade dos públicos, ao lançar a revista Outra Coisa em 2003. A revista sempre traz um CD inédito encartado em sua edição, ao preço simbólico de R$11,90, ou seja, um terço do preço normalmente cobrado por um CD nas lojas. Notamos uma possibilidade de ganho tanto para o artista, que tem um ganho maior devido a menor cobrança de impostos quando o CD é vendido em bancas de jornais, e para o público, que tem acesso a lançamentos de qualidade com preços baixos.
Outra questão em comum é a possibilidade levantada pelos autores de se produzir um disco independente das gravadoras. Publicando um CD junto a uma revista, o artista se liberta dos valores abusivos das gravadoras e de produtores, e ambos os autores colocam esta como uma alternativa para se obter grande visibilidade, venda de discos a preços acessíveis e atingir maior número de público.
Por fim, os dois textos comentam que as novas tecnologias são aliadas de quem pretende divulgar seu trabalho no ramo da música. A diferença é que Kischinhevsky, no primeiro artigo, possui uma visão positiva em relação à tecnologia e o desenvolvimento musical, já no segundo artigo o mesmo autor juntamente com Herschmann defendem com negativismo esta parceria, e declaram a tecnologia como vilã da pirataria e como uma das responsáveis pela crise na indústria fonográfica.



Por Nayane Bragança

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